A União Europeia (UE) deu um passo audacioso na corrida global pela liderança em inteligência artificial (IA). Em um movimento sem precedentes, o bloco planeja investir €30 bilhões para construir uma rede de centros de dados de alto desempenho especializados em IA, que contará com mais de 100.000 unidades de processamento gráfico (GPU) e consumirá um total de 1 gigavatio (GW) de energia elétrica. Essa iniciativa colocará a Europa na vanguarda da infraestrutura computacional mundial, ao lado de gigantes como os Estados Unidos e a China.
O crescimento de modelos de linguagem como GPT-4 e a ascensão de empresas europeias, como a Mistral AI, que lançou recentemente seu modelo Magistral, têm alimentado o debate sobre a soberania tecnológica da Europa. A nova investimento visa precisamente fortalecer essa autonomia, proporcionando ao continente uma infraestrutura própria e soberana para treinar e implantar modelos de IA de última geração.
A previsão é que uma primeira fase de investimento de €10 bilhões seja destinada à construção de 13 centros de dados iniciais, seguida por mais €20 bilhões que criarão uma rede escalável. Essa rede poderá alcançar um consumo de 1.000 MW, transformando-se em uma das infraestruturas digitais mais poderosas já construídas na Europa.
Quando comparado aos projetos de empresas como a Meta, que está desenvolvendo o Prometheus, um centro de dados de 1 GW até 2026, e a xAI, de Elon Musk, que já possui um cluster com 100.000 GPUs NVIDIA H100, a magnitude do plano da UE se destaca. Se concretizados como projetado, os centros de dados europeus poderiam superar a capacidade instalada de quase todos os projetos atuais, exceto os mais ambiciosos do Vale do Silício.
O primeiro centro de dados desta nova rede pode começar a operar nas próximas semanas, com um grande lançamento previsto para setembro em Munique, um dos polos tecnológicos mais dinâmicos do continente. Outros locais estratégicos, que têm acesso a energia renovável e infraestruturas de fibra ótica, estão sendo considerados, incluindo Espanha, Países Baixos, França e os países nórdicos.
Entretanto, a magnitude energética do projeto também apresenta desafios significativos. Com um consumo previsto de 1 GW, os centros precisarão de garantias de um fornecimento estável e sustentável de energia. Essa necessidade pode levar a novas parcerias com empresas elétricas ou até à construção de usinas fotovoltaicas e parques eólicos associados.
Com esta iniciativa, a UE busca assegurar que o talento e a pesquisa em IA na Europa não dependam exclusivamente de infraestruturas de terceiros países, como ocorre atualmente com AWS, Google Cloud e Microsoft Azure. Esta é uma aposta por soberania tecnológica e resiliência econômica e estratégica.
Embora o projeto enfrente muitos desafios, incluindo a escassez global de GPU e a necessidade de contratar talentos especializados, ele representa o movimento mais ambicioso da Europa em infraestrutura de IA até hoje. A corrida pela inteligência artificial agora não é apenas sobre modelos, mas sobre centros de dados, energia, chips e estratégia, e a Europa quer ser uma protagonista nesse futuro digital global.