Estados Unidos e China Intensificam a Corrida pelos Semicondutores em Meio a Tensões Geopolíticas
A rivalidade entre Estados Unidos e China pela liderança na indústria de semicondutores se intensificou, moldando um dos mais críticos campos geopolíticos do século XXI. Diante de restrições cruzadas e tensões em ascensão, ambas as potências buscam assegurar sua soberania tecnológica, transformando a fabricação de chips em um pilar estratégico de suas economias.
Os Estados Unidos, através da legislação conhecida como CHIPS and Science Act, destinaram mais de 52 bilhões de dólares para revitalizar a produção nacional de semicondutores. Essa iniciativa visa diminuir a dependência da produção asiática, especialmente de Taiwan, e inclui investimentos significativos na construção de novas fábricas em estados como Arizona, Texas e Nova York, com empresas como TSMC, Intel e Micron na vanguarda.
Enquanto isso, a China está respondendo com vigor, ampliando sua infraestrutura através de investimentos estatais robustos em gigantes locais como SMIC, YMTC e Loongson. Com previsão de gastar mais de 140 bilhões de dólares entre 2024 e 2030, o país pretende se tornar autossuficiente em tecnologia, especialmente em setores críticos como defesa e serviços públicos.
A competição, no entanto, não se limita a investimentos. Com o endurecimento das políticas de exportação, a administração Biden impôs restrições ao acesso da China a tecnologias essenciais, incluindo ferramentas de litografia e chips avançados. Em retaliação, o governo chinês tem restringido a exportação de materiais estratégicos, aumentando a tensão entre os dois países.
Ambas as nações buscam expandir suas capacidades de produção rapidamente. Nos Estados Unidos, Intel investe mais de 40 bilhões de dólares em novas fábricas, enquanto a TSMC expande suas operações em Phoenix. Na China, a SMIC está construindo novas instalações em Tianjin e Shenzhen, com o objetivo de fabricar chips de 7 nm utilizando técnicas alternativas, sem a tecnologia da ASML.
O impulso da inteligência artificial (IA) está acelerando ainda mais essa disputa. A demanda por chips como os H100 da NVIDIA, essenciais para modelos de IA avançados, tem crescido, mas sua exportação para a China é restrita. Em resposta, empresas chinesas estão desenvolvendo chips alternativos, tentando contornar as limitações impostas.
As consequências dessa luta por supremacia tecnológica estão começando a fragmentar as cadeias globais de suprimento. Fabricantes europeus enfrentam a pressão de escolher entre alinhamentos estratégicos, enquanto países como Taiwan e Coreia do Sul se encontram em uma posição delicada, divididos entre suas relações comerciais e as pressões geopolíticas.
Analistas de empresas como McKinsey e Boston Consulting Group alertam para o risco de duplicação de capacidades e aumento de custos, mas também destacam a possibilidade de surgimento de novos atores regionais, como Vietnã e México, que podem fazer parte do novo cenário de fabricação global.
No centro desta corrida não apenas se define a competitividade econômica, mas também a própria arquitetura do poder digital mundial, moldando o futuro da inteligência artificial, da defesa e da soberania digital. A comunidade global observa e se posiciona, ciente de que a corrida por semicondutores é apenas o início de uma era de novas alianças e disputas tecnológicas.