Oito décadas após o início do debate sobre as mudanças climáticas, a situação das geleiras do planeta continua a se deteriorar rapidamente. Especialistas climáticos da ONU alertaram que muitas regiões do mundo poderão perder suas geleiras até o final deste século, caso o derretimento atual prossiga. Com a marca do primeiro Dia Mundial das Geleiras, celebrado em 21 de março, a questão se torna ainda mais pertinente.
O pesquisador brasileiro Jefferson Simões, que liderou uma expedição na Antártica entre novembro e janeiro, confirmou a gravidade da situação. Em sua análise, ele destacou a rápida perda de geleiras na Península Antártica que, embora tenha começado há 30 anos, acelera-se a cada dia. O pesquisador observou o surgimento de musgos e gramíneas em áreas antes cobertas de gelo, um indicativo claro do impacto das mudanças climáticas.
Simões, o primeiro brasileiro especializado em glaciologia, alertou que, se a tendência persistir, o nível do mar poderá aumentar em 1,20 metros até 2100. No entanto, um cenário ainda mais sombrio indica que, caso algumas geleiras instáveis colapsem, esse aumento poderia alcançar até 7 metros até 2300, configurando uma catástrofe global.
A degradação das geleiras não afeta apenas o nível do mar, mas também tem consequências diretas no clima global e, consequentemente, impacta países como o Brasil. Simões explicou que mudanças nas correntes de ar e de água podem resultar em fenômenos climáticos extremos, como as intensas chuvas que devastaram regiões do sul do Brasil recentemente. A conexão entre o derretimento das geleiras e as alterações climáticas é inegável, provocando um estresse hídrico em diversas localidades que dependem desse recurso.
Ainda mais preocupante é o cenário geopolítico que se desenha nas regiões polares. Com a mudança no ambiente, interesses comerciais e políticos estão se intensificando, o que pode agravar ainda mais a situação das geleiras. O pesquisador fez um aceno à necessidade de uma colaboração internacional para enfrentar esses desafios e proteger essas reservas de água essenciais, não só para o Brasil, mas para o mundo todo.
A situação é alarmante, e os dados da Organização Meteorológica Mundial corroboram: os últimos anos foram os que registraram o recuo mais acelerado das geleiras. Se não houver uma mudança significativa nas políticas ambientais e na conscientização global, o impacto do aquecimento global será irreversível, não apenas para as geleiras, mas para toda a humanidade.
Origem: Nações Unidas