O Ministério do Interior realiza contrato com Recorded Future no valor de 800.000 euros para monitorar ameaças em tempo real
O Ministério do Interior espanhol tomou uma medida significativa para fortalecer seus sistemas de informação contra um aumento de ciberataques no país. Através da Subdireção Geral de Sistemas de Informação e Comunicações para a Segurança (SGSICS), que é liderada por Fernando Grande-Marlaska, foi formalizada a contratação da plataforma de inteligência americana Recorded Future por um montante aproximado de 800.000 euros.
Essa iniciativa surge após um período de teste de seis meses, que começou em novembro de 2024, e demonstra a eficácia do sistema, levando o Ministério a decidir mantê-lo ativo por um ano, a partir de julho de 2025. De acordo com a licitação analisada, o contrato permitirá aos órgãos de segurança do Estado monitorar em tempo real vulnerabilidades e ameaças nas aplicações web do ministério, que lidam com dados sensíveis de milhões de cidadãos.
O aumento das operações de grupos de cibercriminalidade com vínculos prorrussos destaca a necessidade dessa medida. Desde o início da guerra na Ucrânia, diversos ataques na Europa têm sido registrados, incluindo um colapso informático em Melilla, atribuído ao grupo russo Quilin, e um ataque de ransomware ao município de Villajoyosa, em Alicante, que paralisou todos os seus sistemas.
O Ministério do Interior destaca, em sua justificativa, o “crescimento incessante de ciberataques no setor público” e a exploração sistemática por grupos organizados. Entre os grupos mais ativos está o NoName057, especializado em ataques de negação de serviço (DDoS) contra entidades governamentais de países aliados à Ucrânia.
Os relatórios do Centro Criptológico Nacional (CCN) alertam que grupos como NoName057 e KillNet utilizam canais do Telegram para coordenar ataques a infraestruturas críticas em países como Espanha, Alemanha e Estados Unidos.
Nesse contexto, a Recorded Future se apresenta como uma ferramenta essencial, oferecendo inteligência estratégica e técnica para prever as operações dos grupos cibercriminosos. Considerada uma das maiores bases de dados sobre ameaças cibernéticas, a plataforma usa big data, inteligência artificial e análise humana para mapear cada fase das ameaças.
Em uma análise da empresa de cibersegurança ESET, a Espanha é identificada como um dos dez países mais atacados do mundo e o primeiro na Europa. A situação é agravada pela baixa conscientização sobre os riscos cibernéticos, tanto no setor público quanto no privado, com potenciais prejuízos que vão desde a paralisação de serviços essenciais até grandes perdas financeiras para empresas.
De acordo com o Ministério do Interior, a ameaça é intensificada por um contexto geopolítico global, especialmente pela guerra entre Rússia e Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio. Ferramentas como a Recorded Future são consideradas prioritárias para proteger a soberania digital espanhola.
Essa tendência de buscar soluções de inteligência cibernética de origem americana não é exclusiva da Espanha. Outros países da UE também têm adotado serviços semelhantes devido ao aumento de operações híbridas e desinformação coordenada por potências estrangeiras. Tais aquisições refletem um movimento mais amplo de fortalecimento da ciberdefesa nacional, cada vez mais conectada a iniciativas internacionais promovidas por organismos como a OTAN e a Agência Europeia de Cibersegurança (ENISA).