O governo espanhol avança na regulamentação ambiental dos centros de dados
O governo espanhol deu um passo significativo rumo à regulamentação ambiental e de eficiência no setor de centros de dados, alinhando-se à Diretiva (UE) 2023/1791 e ao Regulamento Delegado (UE) 2024/1364. Um novo projeto de Real Decreto, que está em fase de audiência pública até 15 de setembro, exigirá que os operadores relatem métricas padronizadas sobre consumo de energia, pegada hídrica, uso de refrigerantes, resiliência elétrica e impacto socioeconômico.
Registro padronizado via ReportENER
As instalações deverão se inscrever na base de dados europeia ReportENER, gerida pela Comissão Europeia, para compartilhar informações em um formato comum em toda a UE. O registro exigirá dados corporativos, incluindo razão social, NIF, endereço e e-mail. Uma vez registrados, os operadores devem informar dados como:
- Consumo total de energia, especificando a porcentagem de fontes renováveis.
- PUE (Power Usage Effectiveness), um indicador-chave de eficiência energética em centros de dados.
- WUE (Water Usage Effectiveness), a relação de uso de água por kWh de computação.
- Consumo total de água e volume de água potável utilizada.
- Código LAU da localização, disponível no Eurostat para cada município.
- Tipo de refrigerantes e seu potencial de aquecimento global (GWP).
- Contribuição para a flexibilidade e resiliência do sistema elétrico.
A Comissão Europeia exige que esses dados sejam atualizados e publicados anualmente para garantir transparência e comparabilidade entre operadores e países.
Comparação com outros países da UE
Alguns Estados-membros já possuem sistemas avançados de relatório:
- Países Baixos: desde 2022 exigem PUE inferior a 1,2 em novos centros de dados de grande escala.
- Alemanha: obriga a publicação do percentual de reutilização de calor residual (Heat Reuse Factor, HRF).
- Finlândia: integra o relatório de WUE em políticas de gestão hídrica nacional, incentivando o uso de água não potável.
Embora a Espanha careça até agora de um sistema normativo específico, seu mix energético renovável e clima favorável para refrigeração “free cooling” a colocam em uma posição vantajosa para cumprir objetivos ainda mais ambiciosos.
Estratégia nacional e contexto europeu
O Plano Nacional Integrado de Energia e Clima (PNIEC) 2023-2030 e a Estratégia de Inteligência Artificial 2024 incluem referências à sustentabilidade do setor TIC, com ênfase nos hiperescalares que estão expandindo infraestruturas no país. A Espanha já é a porta de entrada de 70% do tráfego de dados para a Europa, graças a sua rede de fibra óptica e disponibilidade de energia limpa.
A Diretiva europeia alerta que os centros de dados consumiram 2,7% da eletricidade da UE em 2018 e poderão atingir 3,21% em 2030 se não forem adotadas medidas. Isso gerou a necessidade de um marco regulatório uniforme para otimizar o desempenho energético e minimizar o impacto ambiental.
Inovações e reutilização de calor residual
Um dos pontos mais inovadores do Real Decreto é a obrigação de reutilizar o calor residual gerado pelos servidores, sempre que viável técnica e economicamente. Em países nórdicos, essa prática já permite aquecer bairros inteiros ou piscinas públicas. A adoção dessa medida na Espanha poderia beneficiar projetos em áreas industriais e residenciais próximas a grandes data centers, promovendo esquemas de economia circular e reduzindo a pegada de carbono.
Impacto na competitividade e transparência
Os novos indicadores como PUE, WUE, HRF e percentual de energia renovável não apenas impulsionarão a eficiência operacional, mas também servirão como diferenciadores em licitações e acordos internacionais. Além disso, ao serem métricas públicas, a transparência poderá favorecer operadores com melhores índices e penalizar os menos eficientes.
Perguntas frequentes (FAQ)
1. Quais indicadores técnicos serão obrigatórios?
Serão incluídas métricas como PUE, WUE, consumo de energia por fonte, uso de refrigerantes e percentual de energia renovável.
2. Quais países já aplicam medidas semelhantes?
Países Baixos, Alemanha e Finlândia possuem sistemas de relatório avançados, alguns superando os requisitos europeus.
3. Qual a relevância da reutilização de calor residual?
Permite integrar centros de dados em ecossistemas de aquecimento urbano, reduzindo emissões e aumentando a eficiência geral.
4. Como essa normativa afeta os operadores internacionais?
Exige que alinhem suas métricas na Espanha aos padrões europeus, facilitando comparação e estimulando investimentos em instalações mais eficientes.
Referencia: Revista Cloud.