Cárcere de Nova Jersey proíbe pendrives, mas permite disquetes obsoletos para apelações
No ano de 2025, enquanto o mundo discute inteligência artificial e supercomputadores, a prisão estadual de Nova Jersey parece estar presa à década de 80. Os presos que desejam trabalhar em suas apelações judiciais enfrentam uma realidade surpreendente: são obrigados a usar disquetes de 3,5 polegadas, um formato cuja produção cessou em 2011.
A denúncia foi feita por Jorge Luis Alvarado, um detento, em um artigo para o Prison Journalism Project (PJP), que chama a atenção para como a falta de tecnologia adequada no sistema penitenciário americano compromete direitos fundamentais, como o acesso a uma defesa justa.
Justiça limitada por 1,44 MB
Os advogados de Alvarado, como muitos outros hoje, enviam documentos através de pendrives. Contudo, dentro da prisão, esses dispositivos são proibidos. A única alternativa é transferir arquivos para disquetes em um computador especial da biblioteca legal. A capacidade de armazenamento dos disquetes é irrisória: apenas 1,44 MB por unidade. Alvarado comenta que um documento legal pode ocupar facilmente dois disquetes, e em casos onde anexos e provas digitalizadas são apresentados, o número de disquetes necessários aumenta, tornando a gestão dos arquivos extremamente difícil.
Além disso, os internos estão limitados a possuir apenas 20 disquetes em suas celas. Alvarado, que tem 12, relata que a manutenção desses itens é complicada, pois disquetes são frágeis e corrompem-se facilmente, obrigando-o a criar cópias como precaução.
Uma tecnologia morta no mundo exterior
A situação é ainda mais complicada pelo fato de que os disquetes não são mais fabricados. A última grande produtora, a Sony, fechou sua linha em 2011. Enquanto isso, na “sociedade livre”, pendrives e armazenamento em nuvem se tornaram o padrão, muito à frente dos disquetes, que agora parecem relíquias de um passado distante. Na prisão, o cenário tecnológico permanece fixado em 1985, com o uso de processadores de texto antigos e máquinas de escrever elétricas.
A contradição é clara: enquanto a sociedade avança para a digitalização, os presos são forçados a buscar sua defesa com ferramentas obsoletas.
O custo do atraso tecnológico
O acesso à biblioteca jurídica para transferir arquivos de pendrives para disquetes pode levar dias para ser autorizado, o que se torna um atraso crítico em meio a prazos legais urgentes. Para internos como Alvarado, essa situação representa uma desvantagem significativa em relação ao sistema judicial.
Ele ainda observa que conseguir revistar documentos em celas equipadas com laptops sem conexão à internet ou tablets restritos poderia facilitar a defesa, mas tal acesso é negado.
Argumentos a favor e contra
Defensores da política penitenciária argumentam que não se deve fornecer tecnologia avançada aos presos, citando questões de segurança. No entanto, organizações de direitos humanos advertem que limitar o acesso a ferramentas básicas compromete a capacidade dos internos de se defenderem adequadamente.
Estudos recentes indicam que entre 4% e 6% dos presos nos Estados Unidos poderiam ser inocentes. Para esses casos, cada barreira tecnológica representa uma carga adicional que pode fazer a diferença entre a liberdade e a injustiça.
Uma brecha digital com consequências humanas
A prisão estadual de Nova Jersey, construída em 1835, pode se vangloriar de sua história, mas interna e tecnologicamente, parece ter ficado estagnada. Alvarado sintetiza sua realidade: “Estamos tentando entrar no mundo moderno, pois precisamos dele para realizar o trabalho mais importante: lutar por nossa liberdade.”
Enquanto isso, a ironia é inegável: em uma época em que qualquer estudante pode guardar terabytes de informações, um preso nos EUA luta por sua apelação com apenas 1,44 MB de espaço e a esperança de que seu disquete não falhe.