Organizações da sociedade civil brasileira estão clamando por uma redução imediata no preço de medicamentos de ação prolongada que previnem a infecção pelo HIV, que causa a Aids. O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, Unaids, revelou que, apesar de ter participado dos ensaios clínicos do lenacapavir, o Brasil foi excluído da lista de países autorizados a produzir versões genéricas do medicamento.
A América Latina, segundo a agência, é uma das três regiões do mundo onde o número de novas infecções por HIV aumentou, representando 13% de todos os casos entre 2010 e 2024. Novas opções injetáveis, como lenacapavir e cabotegravir, demonstraram mais de 95% de eficácia na prevenção da doença. A situação foi discutida em uma audiência pública na Câmara dos Deputados no Brasil, onde representantes de empresas farmacêuticas, do governo e da sociedade civil se reuniram.
A congressista Erika Kokay destacou que mais de 10 mil pessoas morrem anualmente no país devido a complicações relacionadas ao HIV/Aids, enfatizando que o acesso aos medicamentos deve ser encarado como uma questão de direitos humanos e saúde, e não apenas uma questão de consumo. Já Susana Van der Ploeg, do Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual, alertou que 23% das novas infecções ocorreram em países excluídos da licença do lenacapavir, incluindo nações que participaram dos estudos clínicos.
O lenacapavir, fabricado pela Gilead, é administrado a cada seis meses e ainda está em processo de registro no Brasil. Embora a Gilead não tenha anunciado o preço no país, nos Estados Unidos, o custo ultrapassa 28 mil dólares por pessoa ao ano. Em contrapartida, o cabotegravir, desenvolvido pela ViiV Healthcare, é administrado a cada dois meses e atualmente tem um custo médio de 4 mil reais por dose, o que equivale a 2,5 salários-mínimos brasileiros.
Luciana de Melo, coordenadora de HIV/Aids do Ministério da Saúde, afirmou que o preço é uma questão crucial para a incorporação de novos medicamentos no sistema de saúde. O Unaids menciona que o custo do lenacapavir em versão genérica poderia variar entre 35 a 46 dólares por ano, podendo cair para 25 dólares com o aumento da demanda. Para Andrea Boccardi Vidarte, diretora do Unaids no Brasil, é fundamental enxergar o acesso à saúde como um direito humano para atingir as metas globais no combate à Aids.
Origem: Nações Unidas