A rápida adoção da inteligência artificial (IA) e outras tecnologias emergentes no ambiente empresarial enfrenta um obstáculo crítico: a falta de profissionais qualificados. Essa realidade foi destacada por Lucía Flecha, diretora de Transformação Digital e CIIO da Ferrovial, durante sua participação no DES – Digital Enterprise Show 2025, maior evento europeu sobre tecnologias exponenciais e IA, realizado em Málaga.
Flecha alertou que “há mais de 4.000 posições relacionadas à IA e dados sem ocupação na Espanha”, e espera-se que a ocupação aumente em 15% neste ano. Ela enfatizou a urgência de equipar as empresas com equipes preparadas, em um contexto marcado pela alta rotatividade e pela competitividade global por talentos. A média de permanência nas funções é de aproximadamente dois anos e meio, resultando em instabilidade e perda de conhecimento essencial.
Entre os perfis mais difíceis de encontrar, Flecha destacou os especializados em visão computacional e mencionou que, embora os perfis relacionados à governança estejam avançando, ainda são escassos. Ela também ressaltou o impacto da IA generativa na transformação do trabalho, afirmando que os agentes virtuais que os próprios colaboradores poderão criar estarão aparecendo em breve. “É crucial que recebam formação adequada e saibam como governá-los, pois isso mudará completamente a maneira como trabalhamos”, alertou.
A importância da colaboração intergeracional nas empresas também foi abordada por Rosa Montero, Human Business Partner Digital na Airbus. Segundo ela, “convivemos com quatro gerações na empresa e é essencial que haja uma troca real de conhecimento entre perfis seniores e júnior”. Montero concordou que é necessário estreitar a colaboração entre empresas e instituições educacionais para reduzir a lacuna no talento digital, afirmando que a relação empresa-formação deve ser constante e estratégica.
Ambas as diretoras concordaram que o sucesso da transformação digital depende, irremediavelmente, de investimentos em talento, formação contínua e parcerias sustentáveis entre o meio acadêmico e empresarial, especialmente em um cenário onde a IA e suas aplicações estão redefinindo o futuro do trabalho.
Durante o evento, representantes de diversas instituições acadêmicas reuniram-se para discutir o papel da tecnologia na formação e a necessidade de uma visão mais humanista. Francisco García, catedrático emérito da Universidade Complutense de Madrid, destacou que a IA “não é que possa ajudar a melhorar a transferência de conhecimento, é que tem que fazê-lo”, defendendo um diálogo constante entre empresas e universidades.
Já Juan Salvador Victoria, vicedecano da Faculdade de Ciências da Comunicação da Universidade de Málaga, sugeriu um enfoque multidisciplinar na pesquisa da IA, enfatizando que “esta tecnologia nos leva a reconstruir a inteligência humana”. A decana Bella Palomo expressou preocupações sobre os riscos do uso inadequado das ferramentas de aprendizado automático, alertando que os nativos digitais não são imunes a esses riscos.
Por fim, o DES2025 também examinou novas estratégias para atrair e reter talentos. Vanessa Izquierdo, diretora geral da Sagardoy Business & Law School, declarou que o processo de contratação evoluiu; as empresas agora buscam criar um ecossistema atrativo para futuros colaboradores. Elisa López, especialista em desenvolvimento de talentos, ressaltou que as recomendações de funcionários atuais são fundamentais para a atração de novos talentos.
As especialistas afirmaram que a mudança na cultura empresarial é essencial, principalmente em um mercado que une jovens digitais e especialistas seniores, sublinhando a necessidade de atender às demandas da geração Z, que prefere ambientes colaborativos e adaptáveis.