Apenas quatro anos após um crescimento explosivo nas matrículas dos cursos de Ciências da Computação, a realidade do mercado de trabalho para os formandos passou de “futuro à prova de crises” para um cenário de incerteza estrutural. Universidades que antes tinham dificuldade em acompanhar a demanda agora se deparam com egressos que recebem uma única oferta de emprego em vez de várias. O que causou essa mudança drástica, além da ascensão da inteligência artificial (IA)?
A trajetória de crescimento das matrículas entre 2016 e 2022 gerou uma quantidade expressiva de graduados que agora entram em um mercado em desaceleração. As empresas estão revisando suas estruturas de equipe, fazendo cortes e colocando mais filtros no processo de seleção. Além disso, a implementação de ferramentas de IA generativa tem modificado significativamente as funções na área; tarefas que antes eram executadas por profissionais juniores agora podem ser realizadas com maior rapidez pela automação, reduzindo a necessidade de novos contratações.
Dentro das universidades, os estudantes enfrentam processos seletivos mais longos e tecnicamente exigentes, além de uma diminuição nas oportunidades de estágios. As empresas buscam perfis “T-shaped”, que combinem uma base ampla de conhecimentos com especializações específicas alinhadas ao valor de mercado.
As habilidades que continuam a ser valorizadas incluem fundamentos como estruturas de dados, ciência de dados aplicada e segurança cibernética. Por outro lado, a implementação repetitiva sem compreensão contextual está se tornando obsoleta.
Para reverter esse cenário, tanto estudantes quanto educadores e empregadores têm papéis cruciais. Estudantes devem aprender a trabalhar com IA, diversificar suas habilidades e focar em impactos reais em seus portfólios. As universidades, por sua vez, precisam oferecer um currículo que integre prática com ética e responsabilidade, além de promover projetos significativos. Já os empregadores devem realizar avaliações mais realistas e investir em treinamentos internos para promover a requalificação de sua força de trabalho.
O futuro do setor depende da capacidade de adaptar-se às mudanças trazidas pela tecnologia. A meta é não apenas retornar aos níveis anteriores de oferta e demanda, mas construir um novo paradigma em que a informática continue a cumprir sua promessa de resolver problemas significativos. As perspectivas são de que, ao observar tendências de recuperação até 2025-2026, haverá um aumento nas ofertas que envolvem IA e suas aplicações práticas.





