A Promotora de Justiça da Coreia do Sul abriu um dos casos mais delicados dos últimos anos na batalha global pela tecnologia de semicondutores. Dez pessoas, incluindo ex-funcionários da Samsung Electronics, foram acusadas de vazar informações cruciais para a ChangXin Memory Technologies (CXMT), um fabricante chinês de memórias, relacionadas ao processo de fabricação de DRAM de “10 nanômetros”, uma tecnologia considerada estratégica e protegida pelo Estado sul-coreano.
A investigação revelou que os fatos envolvem a segunda geração do nó de 10 nanômetros em DRAM, conhecida na indústria como “1y nm”. Esse avanço não se refere apenas a “miniaturizar chips”; trata-se de dominar centenas de etapas de fabricação, ajustes meticulosos no fluxo do processo e decisões de engenharia que, na prática, fazem a diferença entre um protótipo promissor e uma produção em massa rentável.
Um ex-executivo identificado como “A”, que trabalhou na Samsung e depois na CXMT, está no centro da acusação. A Promotoria sustenta que “A” e outros quatro membros chave da equipe de desenvolvimento foram imputados e detidos, enquanto cinco outros responsáveis por áreas específicas foram acusados sem detenções.
Os investigadores detalham um padrão que combina captação de talentos, planejamento e extração de informações críticas. A CXMT, respaldada por um investimento público local de 2,6 trilhões de wons, teria aproveitado a contratação de pessoal com conhecimento interno para acelerar o desenvolvimento de um processo avançado, presumivelmente utilizando tecnologia sul-coreana de maneira ilícita.
Um antigo pesquisador, identificado como “B”, é acusado de copiar e vazar informações sobre “centenas de etapas” do processo de DRAM de 10 nanômetros. O método utilizado por “B” é surpreendente: anotações manuscritas. Ele supostamente teria transcrito à mão informações do processo ao se transferir para a CXMT em 2016, uma tática para evitar deixar rastros de cópias digitais.
A Promotoria afirma que essas informações eram “essenciais” para o processo e que a CXMT as utilizou, entre outros elementos, para garantir seu fluxo de produção de DRAM de 10 nanômetros.
Os investigadores indicam que a má utilização da tecnologia não foi um episódio isolado, mas sim um processo sustentado ao longo de todo o desenvolvimento na China. Eles esboçaram três etapas principais: definição do plano de aquisição tecnológica, filtragem de informações por ex-pesquisadores e, por fim, a culminação com a primeira produção em massa de DRAM de 10 nanômetros em 2023.
Paralelamente, a investigação também abrange outras empresas, incluindo a SK hynix. Outro acusado, identificado como “C”, está sob suspeita de vazar tecnologia crítica relacionada à SK hynix.
A situação é complexa: no setor de semicondutores, onde o desempenho final depende do design e da engenharia de fabricação, “o processo é o produto”. Para a Coreia do Sul, essas tecnologias são consideradas “tecnologias nacionais-chave”, devido ao seu impacto direto na economia, exportações e capacidade industrial do país. A Promotoria enquadrou o caso na legislação de proteção de tecnologia industrial, focando na saída ilícita de tecnologia estratégica para o exterior.
Este caso destaca um desafio significativo para o setor: o maior risco nem sempre é um ataque cibernético sofisticado, mas sim combinações de mobilidade laboral, incentivos e engenharia reversa, que podem ser camufladas por métodos simples, como cadernos e canetas.
Os investigadores estimam que o dano potencial para o setor sul-coreano pode atingir pelo menos dezenas de trilhões de wons, sublinhando a escala do conflito e a importância dessas tecnologias para o futuro industrial do país, especialmente em um cenário onde a demanda por memórias avançadas para Inteligência Artificial continua a crescer.





