Nos últimos anos, a África tem enfrentado um aumento preocupante de instabilidade política, com registros de golpes de Estado em diversos países do continente. Exemplos recentes incluem a tomada de poder pelos militares na Guiné-Bissau e uma tentativa frustrada de derrubar o presidente no Benin. Estes eventos trouxeram à tona a insatisfação crescente entre a população africana, uma realidade que foi discutida em um recente debate acadêmico liderado pelo Escritório da Conselheira Especial do Secretário-geral para África.
Um estudo revelador revelou que cerca de dois terços dos africanos sentem que seus países estão indo na direção errada, refletindo um descontentamento geral em relação ao funcionamento das democracias. Cristina Duarte, conselheira especial da ONU, destacou que estamos vivendo um período de crise nas democracias africanas, que, se bem gerida, pode representar uma oportunidade para a construção de modelos democráticos autênticos. Durante a conversa, Duarte enfatizou que a importação de modelos de democracia ocidentais, frequentemente inadequados, contribuiu para a insatisfação atual.
A alta funcionária da ONU também apontou que a falha em gerar “democracia econômica” tem sido um fator crucial para o descontentamento popular. Enquanto os países ocidentais têm visto aumentos em produtividade, os salários não acompanharam esse crescimento, exacerbação que está presente em várias nações africanas. Compreender as raízes das injustiças que afligem o continente é essencial para a elaboração de medidas que busquem justiça reparatória e um desenvolvimento econômico sustentável.
Duarte argumentou que parte da solução para os problemas enfrentados pela África reside no controle dos seus próprios recursos. A conselheira defendeu que, para alcançar justiça reparatória, é fundamental que os Estados africanos tenham a capacidade de gerir seus recursos de forma autónoma, sem a exploração externa que historicamente caracteriza a relação entre África e o resto do mundo.
Como parte de um esforço para abordar essas questões, a justiça reparatória foi escolhida como tema central da União Africana para 2025, uma iniciativa considerada corajosa que promete dar à África um papel mais proeminente na geopolítica global. A discussão sobre justiça reparatória, que ocorreu ao longo do mês de maio, ressalta a busca por soluções que visem não apenas a recuperação histórica, mas também a construção de um futuro mais justos e promissor para os africanos.
Origem: Nações Unidas






