A recente inauguração do primeiro projeto nacional chinês dedicado à produção de fotorresistentes EUV baseados em óxidos metálicos em Wuxi marca um marco importante no cenário tecnológico e financeiro global. Anunciado durante a Conferência de Inovação e Desenvolvimento de Circuitos Integrados 2025, o projeto posiciona a China como um concorrente significativo em um setor até então dominado por gigantes japoneses e americanos.
A indústria chinesa de semicondutores, até agora, dependia fortemente de fornecedores estrangeiros para obter fotorresistentes de última geração, essenciais para as avançadas máquinas EUV da ASML. Além disso, o fornecimento desses materiais enfrenta restrições de exportação rigorosas impostas por países como os Estados Unidos, Japão e Países Baixos.
Com esta iniciativa, a China visa diminuir sua vulnerabilidade geopolítica, garantindo insumos críticos para empresas como a SMIC e a YMTC, ao mesmo tempo que busca reduzir a dependência dos líderes do setor, Tokyo Ohka Kogyo e JSR, que atualmente dominam o mercado global de resinas EUV.
A SMIC, maior foundry do país, é uma das principais beneficiárias desse projeto. Embora ainda esteja limitada a nós de 7 nm, a disponibilidade local de fotorresistentes EUV poderia acelerar sua evolução em direções de 5 nm e 3 nm. A YMTC, que atualmente não utiliza EUV, também precisará adotá-la no futuro para competir com grandes como Samsung e SK Hynix. Por sua vez, a CXMT, focada em DRAM, pode se beneficiar do acesso a MOR nacionais para acelerar sua competitividade.
Entretanto, o avanço apresenta desafios consideráveis. Os custos iniciais de produção são elevados, exigindo uma pureza extrema e processos altamente estáveis, além de uma incerteza em torno da escalabilidade industrial necessária para produzir em larga escala com a mesma qualidade que os líderes do mercado. A questão da aceitação internacional também paira sobre o desafio, já que grandes foundries podem hesitar em incorporar materiais chineses sem certificações adequadas.
Os impactos financeiros e estratégicos são significativos, com a possibilidade de alterar o equilíbrio de um mercado que, apesar de ser pequeno em volume, é altamente rentável. As gigantes asiáticas, como Tokyo Ohka Kogyo e JSR, poderão enfrentar pressão em seus mercados regionais caso a China avance com sucesso. DuPont também pode ver seu potencial de crescimento na Ásia restringido, mesmo mantendo vantagens em patentes.
A perspectiva de investimento aponta que, no curto prazo, as ações das empresas japonesas não devem sofrer alterações drásticas, mas um sucesso no projeto chinês pode, ao longo de três a cinco anos, reduzir a participação de mercado dos fornecedores japoneses. Para os investidores na China, o movimento fortalece a narrativa de autosuficiência tecnológica, sugerindo uma valorização nas empresas locais ligadas à cadeia de materiais.
Em suma, este projeto não é apenas uma conquista tecnológica, mas um grito de independência financeira e estratégica da China no campo dos semicondutores. Embora os desafios sejam grandes, o sucesso pode reposicionar decisivamente empresas chinesas em um mercado global cada vez mais competitivo, onde cada gota de químico é fundamental para a próxima geração de chips.