No coração de cada dispositivo digital — desde telefones móveis até supercomputadores que treinam inteligência artificial — está um protagonista invisível: o microchip. A fabricação desses componentes depende de uma técnica chamada litografia, que consiste em gravar padrões minúsculos sobre wafers de silício. Neste campo, a ASML, sediada na Holanda, se consolidou como o ator-chave da indústria mundial. Sua tecnologia de litografia EUV (ultravioleta extrema) é hoje indispensável, e a evolução rumo ao High-NA (0,55 de abertura numérica) promete definir o futuro dos semicondutores.
A trajetória da litografia e o pioneirismo da ASML refletem um constante avanço tecnológico. Desde a fundação da empresa em 1984, a litografia utilizava lâmpadas de vapor de mercúrio, produzindo luz azul com uma comprimento de onda de 436 nanômetros, permitindo a impressão de transistores de 1 micrômetro. Com o aumento da demanda por miniaturização, a tecnologia logo deu espaço a sistemas que operavam com lâseres excímeros, culminando na introdução da litografia EUV nos anos 90.
Em 1994, um consórcio de empresas liderado pela ASML demonstrou a viabilidade da luz EUV. Após anos de desafios técnicos e financeiros, em 2013, a ASML entregou o primeiro sistema de EUV para produção, consolidando a litografia EUV na fabricação de chips. O projeto High-NA, recentemente introduzido, promete uma nova era, possibilitando a impressão de transistores de 8 nanômetros com um só disparo, uma inovação significativa na eficiência e no custo de produção.
A adoção dessa tecnologia redefine as estratégias de empresas como Intel, TSMC e Samsung. Enquanto a Intel já confirmou a utilização do High-NA, o TSMC ainda pondera sobre a melhor abordagem, buscando manter a competitividade de preços na produção. O custo elevado das máquinas, variando entre 235 e 380 milhões de dólares, ainda é um fator crítico, mas essencial para a continuidade da Lei de Moore.
A ASML, que ao longo de seus 40 anos de história passou da construção de sistemas com lâmpadas de mercúrio à liderança em litografia EUV, se estabelece como um ator estratégico na geopolítica dos semicondutores, unindo inovação tecnológica a desafios econômicos. O futuro coloca a ASML como protagonista na busca por litografia mais precisa e produtiva, um desafio que, embora colossal, ela já demonstrou ser capaz de superar.