Um novo decreto do Conselho Federal suíço transforma radicalmente a vigilância digital
O governo suíço, através do Conselho Federal e do Departamento Federal de Justiça e Polícia (DFJP), anunciou novas medidas de vigilância digital que exigem que os serviços digitais com mais de 5.000 usuários armazenem metadados, identifiquem usuários e colaborem ativamente com as autoridades para decifrar comunicações. A reforma, que não será submetida à votação parlamentar, gera preocupações quanto à privacidade e ao futuro do ecossistema digital na Suíça.
De acordo com o projeto de reforma do Regulamento sobre Vigilância de Tráfego Postal e de Telecomunicações (VÜPF), todos os serviços digitais deverão armazenar metadados – como endereços IP e datas de conexão – por seis meses. Além disso, eles terão que verificar a identidade dos usuários, o que poderá acabar com o registro anônimo em plataformas de nuvem e serviços colaborativos.
Uma das exigências mais alarmantes é que os provedores de serviços terão que ser capazes de remover qualquer criptografia que tenham implementado, permitindo que as autoridades acessem dados em texto não criptografado. Essa mudança é vista como uma ameaça direta à privacidade dos usuários e pode comprometer a integridade e a segurança jurídica de plataformas digitais.
Serviços como Threema e Proton Mail, que se destacam pelo compromisso com a privacidade, estão entre os mais afetados. Seus CEOs expressaram preocupação sobre a imposibilidade de cumprir com as novas exigências, levando a considerações de relocação das empresas.
Organizações do setor digital e especialistas jurídicos criticaram duramente a reforma. A Digitale Gesellschaft classificou as novas normas como um ataque ao Estado de direito e à comunicação segura, com potencial de criar um ambiente opressivo para pequenos provedores e startups. Especialistas alertam que isso pode permitir uma vigilância em tempo real sem precedentes sobre as atividades dos usuários.
Essas desenvolvimentos ocorrem em um momento crítico, com a União Europeia promovendo a soberania digital e a privacidade. A nova regulamentação suíça pode diminuir a confiança em seus serviços de nuvem, potencialmente empurrando usuários para alternativas de grandes empresas tecnológicas que não estão sob o mesmo controle regulatório.
Se aprovada, essa reforma não só afetará as liberdades individuais, mas também poderá marcar o início do fim da Suíça como um refúgio digital seguro, colocando em risco décadas de reputação construída em torno da privacidade e da inovação. A discussão está apenas começando, mas suas consequências são globais.
Fontes: Heise e Notícias de Segurança.