A ascensão da inteligência artificial generativa trouxe à tona um novo mercado que, à primeira vista, pode parecer contraditório: o de profissionais humanos dedicados a corrigir, humanizar ou refazer o que a IA não consegue realizar adequadamente. Apesar da promessa de automatização do trabalho criativo e técnico, a realidade é que a produção automática de conteúdo frequentemente requer intervenção humana para atingir um padrão aceitável.
Lisa Carstens, uma designer gráfica independente na Espanha, relata como sua função evoluiu: “Antes, eu recebia pedidos de logotipos originais; agora, muitos clientes chegam com logos criados por IA que apresentam linhas dentadas, textos ilegíveis ou pixelizações evidentes.” A designer destaca que, em muitos casos, não basta realizar pequenos ajustes; a correção pode demandar o redesenho manual do logo, um esforço que pode ser mais demorado do que criar um novo do zero.
Ainda que esses trabalhos frequentemente sejam menos remunerados do que os serviços tradicionais, tornaram-se uma fonte estável de renda para muitos criativos. Um relatório recente do MIT indica que 95% das experiências corporativas com IA generativa não geraram retorno sobre o investimento, em grande parte porque as ferramentas atuais falham em reter feedback e não se adaptam aos contextos.
Plataformas de trabalho freelance, como Upwork e Fiverr, confirmam esta tendência, observando um aumento na demanda por especialistas humanos. A Fiverr, por exemplo, reporta um crescimento de 250% nos pedidos de ilustrações e designs personalizados.
O CEO da Freelancer, Matt Barrie, sintetiza essa mudança com uma metáfora: “A forma mais rápida de falhar é enviar uma carta de amor escrita pelo ChatGPT. O mercado reconhece rapidamente quando algo é produzido apenas por IA, e a reação é visceral.”
Além do design, a problemática se estende ao desenvolvimento, onde Harsh Kumar, um programador indiano, relata que frequentemente recebe projetos de aplicações gerados por IA que não funcionam como esperado. Ele enfatiza que “a IA pode aumentar a produtividade, mas não pode substituir completamente os humanos”.
Com isso, surge uma nova economia de correção, envolvendo designers, ilustradores, escritores e desenvolvedores transformando conteúdos gerados por IA em obras funcionais. A tendência demonstra que a empatia, o julgamento crítico e a criatividade permanecem insubstituíveis.
Assim, longe de eliminar os profissionais criativos e técnicos, a IA está redefinindo seus papéis. O aumento de trabalhos voltados para “consertar o que a IA realiza” evidencia suas limitações, ao mesmo tempo que abre novas oportunidades no mercado de trabalho.