Microsoft recebe aprovação para construção de centros de dados em Aragão, mas questões sobre soberania digital persistem
Microsoft obteve a aprovação inicial para a construção de três grandes campus de centros de dados em Aragão, com um investimento que supera 5,3 bilhões de euros. Esta iniciativa, que inclui a instalação de centenas de quilômetros de fibra óptica, solidifica a posição da região como um importante hub para a nuvem Azure, ao lado da presença da AWS e do centro já operacional da Microsoft em Madrid.
As promessas oficiais falam em geração de empregos qualificados e oportunidades para o setor tecnológico local, além do que as autoridades chamam de “soberania digital”. No entanto, emerge uma questão crítica: será que a mera presença física de centros de dados europeus realmente garante a soberania sobre os dados?
Dados recentes do Synergy Research Group revelam uma disparidade preocupante, com mais de 70% do mercado europeu de cloud controlado por apenas três gigantes americanos: Amazon Web Services, Microsoft Azure e Google Cloud. Os provedores europeus, como OVHcloud e Scaleway, representam apenas cerca de 15%, uma queda significativa em relação a 29% em 2017. Enquanto a União Europeia desenvolve estratégias para a “autonomia estratégica”, a dependência de grandes empresas de tecnologia dos Estados Unidos continua a crescer.
Um dos principais desafios reside no aspecto jurídico. Apesar de os dados serem armazenados fisicamente na Espanha, as empresas permanecem sujeitas à legislação do país de origem. O CLOUD Act, que permite que as autoridades dos EUA acessem dados armazenados fora do país, levanta questões sobre a verdadeira proteção dos dados de cidadãos europeus.
Iniciativas como Gaia-X, que visam estabelecer um sistema de nuvem soberano na Europa, têm enfrentado críticas por não lograrem posicionar efetivamente um modelo totalmente europeu de infraestrutura digital. Com a introdução de soluções de “nuvem soberana” por gigantes da cloud, a dependência do controle efetivo por fornecedores não europeus permanece.
A recente mudança de licenciamento pela VMware após a aquisição pela Broadcom alertou muitas organizações europeias sobre os riscos de depender de um único fornecedor. Soluções abertas como Proxmox VE têm ganhado destaque como alternativas viáveis em ambientes corporativos, permitindo a construção de clusters de virtualização que reduzem a dependência de grandes corporações americanas.
Para que a soberania digital se torne uma realidade concreta na Europa, é fundamental que haja um foco em quatro áreas: soberania física, jurídica, tecnológica e econômica. Isso implica não apenas em ter centros de dados em solo europeu, mas também em assegurar que o controle e a propriedade dessas infraestruturas estejam em mãos europeias.
Governos e empresas precisam adotar políticas que priorizem a contratação de fornecedores locais e o uso de tecnologias abertas para assegurar um futuro mais autônomo e sustentável na esfera digital. A atual situação em Aragão é um sintoma de uma dependência generalizada que precisa ser abordada com urgência, ou os centros de dados se tornarão apenas mais um elemento de um cenário de controle estrangeiro.





