O LibreOffice tem vivido um crescimento significativo nas últimas semanas, com mais de um milhão de downloads semanais desde o lançamento da sua versão 25.2. Esse aumento na adoção não é um fato isolado, mas parte de uma tendência mais ampla, onde usuários e empresas buscam alternativas aos modelos de assinatura e às soluções em nuvem promovidas por grandes empresas de tecnologia.
Rejeição aos Modelos de Assinatura e Nuvem
O aumento nos downloads do LibreOffice reflete uma crescente insatisfação com as estratégias de empresas como a Microsoft e o Google, que têm se voltado para modelos de pagamento recorrente e dependência de nuvem. Ferramentas como Microsoft 365 e Google Docs eliminaram amplamente as opções de compra única, obrigando os usuários a subscrever de forma permanente.
Segundo Jason Wong, vice-presidente e analista da Gartner, “os clientes que desejam manter seus sistemas localmente estão migrando para opções mais abertas, uma vez que Microsoft e Google concentraram seus esforços em soluções na nuvem”. Essa preferência não apenas responde à necessidade de reduzir custos a longo prazo, como também à preocupação com a privacidade e a soberania tecnológica.
Embora o modelo de assinatura permita o acesso a software sempre atualizado, ele representa um encargo acumulativo maior com o passar do tempo. Muitas empresas e administrações públicas estão priorizando a independência frente a grandes corporações, o que tem impulsionado a adoção de ferramentas de código aberto como o LibreOffice.
Uma Estratégia Empresarial Adaptada à Demanda
Para atender às necessidades do setor corporativo, a The Document Foundation desenvolveu uma estratégia que combina sua tradicional Community Edition, gratuita e de código aberto, com novas opções voltadas para empresas e governos. Essas versões incluem suporte técnico, formação especializada e outros serviços adicionais que facilitam a implementação em ambientes profissionais.
Segundo Mike Saunders, membro do conselho da The Document Foundation, o LibreOffice conta com mais de 200 milhões de usuários no mundo todo, embora o número real possa ser maior devido à falta de rastreamento dos usuários por questões de privacidade.
Um exemplo notável de adoção no setor público é a recente migração do estado alemão de Schleswig-Holstein, onde mais de 30.000 equipamentos substituíram o Microsoft Office pelo LibreOffice. Este movimento faz parte de uma estratégia mais ampla para reduzir a dependência de soluções proprietárias e garantir o controle sobre os dados.
Alternativas ao Modelo SaaS: Além do LibreOffice
O crescimento do LibreOffice é um reflexo de uma tendência mais ampla, onde usuários e empresas buscam alternativas aos modelos de software como serviço (SaaS) impostos por grandes empresas. A Adobe, por exemplo, é uma das empresas que mais apostou nesse modelo, eliminando a possibilidade de adquirir licenças de pagamento único e forçando os usuários a pagar assinaturas mensais.
Existem diversas alternativas que permitem evitar esses modelos de pagamento recorrente, incluindo:
Alternativas ao Microsoft 365 e Google Docs:
- ONLYOFFICE: Suite de escritório compatível com Microsoft Office, com versões em nuvem e locais.
- WPS Office: Solução com interface semelhante ao Microsoft Office, disponível sob um modelo de pagamento único.
- Collabora Office: Versão otimizada do LibreOffice com suporte empresarial.
Alternativas ao Adobe Photoshop:
- GIMP: Software de código aberto com ferramentas avançadas para edição de imagens.
- Affinity Photo: Opção de pagamento único com funções profissionais.
- Krita: Especialmente projetado para ilustração e pintura digital.
Alternativas ao Adobe Premiere Pro:
- DaVinci Resolve: Versão gratuita com ferramentas avançadas para edição de vídeo.
- Kdenlive: Editor de código aberto com múltiplas opções para edição profissional.
- Shotcut: Opção gratuita com funcionalidades avançadas.
Alternativas ao Adobe Illustrator:
- Inkscape: Editor de gráficos vetoriais com suporte para formatos como SVG e AI.
- Affinity Designer: Opção de pagamento único com ferramentas comparáveis ao Illustrator.
- Alternativas ao Adobe InDesign:
- Scribus: Software livre para maquetação e design editorial.
- Affinity Publisher: Alternativa de pagamento único com enfoque profissional.
LibreOffice e o Debate sobre Inteligência Artificial
Outro fator que tem influenciado o crescimento do LibreOffice é a preocupação com o uso de inteligência artificial no software de escritório. Segundo Mike Saunders, “os usuários do LibreOffice não querem que a inteligência artificial interfira em seu trabalho”. Embora a The Document Foundation não planeje integrar inteligência artificial na suíte de forma nativa, tem incentivado os desenvolvedores a criar extensões que a utilizem de forma responsável.
Em termos de sistemas operacionais, 85% dos usuários do LibreOffice utilizam Windows, seguidos por macOS e Linux. Contudo, a quantidade exata de usuários em Linux é difícil de determinar, uma vez que muitas distribuições incluem o LibreOffice como padrão.
O Futuro do Software Livre e a Independência Tecnológica
O sucesso do LibreOffice e o crescimento de outras alternativas ao software proprietário refletem uma mudança na mentalidade de usuários e empresas. Cada vez mais, organizações estão priorizando a autonomia tecnológica, a privacidade e a eliminação de custos recorrentes, o que tem impulsionado a adoção de ferramentas de código aberto.
Esse fenômeno indica que o software livre não é apenas uma alternativa viável, mas está ganhando terreno diante dos modelos de negócios das grandes corporações tecnológicas. À medida que mais empresas e governos buscam soluções flexíveis e acessíveis, o futuro do código aberto parece mais promissor do que nunca.