A crescente influência da inteligência artificial (IA) no mercado de trabalho global está começando a se manifestar de forma alarmante, com empresas de tecnologia como Microsoft e IBM anunciando cortes significativos em suas equipes. Essa transformação, impulsionada pela automação, representa uma reestruturação profunda que promete impactar milhares de empregos.
A Microsoft confirmou que 3% de sua força de trabalho sofrerá as consequências dessa reorganização, enquanto a IBM anunciou a demissão de 9.000 colaboradores nos Estados Unidos, além de planos para automatizar mais 3.000 postos nos próximos meses. Embora esses números possam parecer modestos em relação ao total de funcionários dessas empresas, o impacto simbólico é muito maior, indicando uma virada nas dinâmicas do mercado de trabalho.
De acordo com análises do podcast “Caminho para as Nuvens” da SpainClouds, os cortes não estão se restringindo apenas a áreas técnicas. Funções nos departamentos de vendas, marketing e suporte administrativo, historicamente consideradas menos vulneráveis à automatização, estão sendo as mais afetadas. Os analistas destacam que ferramentas de IA generativa estão permitindo a substituição de processos inteiros, o que se traduz em desafios duplos para os profissionais: a perda de seus empregos e a dificuldade em adquirir novas habilidades que são cada vez mais técnicas.
Perante esse cenário de demissões, surge a questão: os empregos que estão sendo extintos serão substituídos por novos, focados na gestão e desenvolvimento de IA? A princípio, sim. O avanço da automação pode criar novas oportunidades em áreas como engenharia de prompts e DevOps. No entanto, a rapidez das mudanças levanta dúvidas sobre a capacidade dos profissionais de se requalificarem.
“Uma única pessoa trabalhando com automação pode agora cumprir tarefas que antes exigiam uma equipe de 20 a 30 pessoas. Isso muda o equilíbrio do mercado”, explica Víctor Estival, cofundador da SpainClouds. Ele ressalta a necessidade de uma colaboração efetiva entre governos, empresas e instituições educacionais para que os trabalhadores afetados encontrem caminhos viáveis de requalificação.
Entretanto, nem tudo é negativo. A expansão da computação quântica e a necessidade de infraestrutura de nuvem estão criando novas oportunidades de emprego qualificado. A Merlin Properties, por exemplo, anunciou um investimento de perto de 3 bilhões de euros em datacenters em Espanha e Portugal, destacando a demanda crescente por profissionais em cibersegurança e gestão de TI.
Eventos como o SpainClouds Summit 2025 recentemente reuniram especialistas em torno de discussões sobre tecnologias emergentes, enquanto iniciativas educativas estão oferecendo cursos gratuitos para aprimorar as habilidades práticas necessárias no mercado atual.
Os cortes em empresas como Microsoft e IBM são apenas o começo de uma transformação mais ampla. A IA, que antes era vista apenas como uma ferramenta, agora se apresenta como uma força laboral que redefine a estrutura do trabalho. Nesse contexto, a Europa e a Espanha têm a oportunidade histórica de liderar essa transição de maneira inclusiva e ética, buscando garantir que milhões de trabalhadores não fiquem para trás. O diálogo já começou, mas os desafios pela frente são significativos.